segunda-feira, 10 de maio de 2021

O homem do chapéu


 Não me considero uma pessoas das mais sãs, mas o que me aconteceu esta pondo a prova meus piores temores. Tenho infelizmente desenvolvido uma nova mania pelo oculto, não que tenha interesse em fazer maldições, mas a estória em volta desse tema tem me instigado nos últimos meses. Por minhas andanças por sebos empoeirados pelas cidade, tropecei com esse livro, a capa realmente me instigou. Uma figura de um bode-humano sobre um pentagrama, com seu titulo “O livro máximo sobre bruxaria e outras historias”.


Não nego que tive um sensação desagradável ao folhear suas páginas amareladas, um toque maléfico permeia ás páginas, eu posso sentir! A repulsa era tão grande que não consegui comprar esse livro, mesmo com seu preço quase dado, um convite delicioso a minha natureza humana. Isso aconteceu há mais ou menos dois anos atrás, mesmo com a minha mania sobre um tema tão mórbido ter se dissipado, ou pelos menos eu achava que sim. Me achei nas mesmas ruas sujas e desertas da maldita livraria, não pude me controlar de entrar e na quase certeza achar o mesmo livro me aguardando. Nem pensei em valores, se isso não é um sinal que devo me aventurar por esse mundo, o que mais pode ser? Engraçado pensar que o lapso de tempo da minha narrativa não corresponde aos meus pensamentos?!?!

De qualquer forma, ao chegar em casa joguei o livro junto aos vários que compro, mas não tenho mais a mesma ânsia de ler. Comentei vagamente com a minha esposa meu novo item, como de certa forma acredito que ele macabramente me esperou nas prateleiras de uma livraria por dois anos. E quanto isso me fascinava e o quanto me cansava as suas preocupações femininas sobre meu interesse sobre tal assunto. Deixei a reclamando para si, nada mais importa. Não quero entrar no mundo sombrio, apenas saber como é, me tirar um pouco da existência mundana que se transformou minha vida.

Me deito na minha cama de madeira, pego o livreto e me perco em suas estórias que adornam demônios, gnomos, rituais e criaturas do macrocosmo do oculto. O que me surpreende é o quanto a sua leitura me intimida, mas ao mesmo tempo me decepciona, ao ponto de começar a cair no sono. Ponho um pouco de lado para descansar meus olhos, estão tão cansados que nem me dou o trabalho de fechar o livro, apenas o repouso aberto no meu peito...

A minha visão parece levemente desfocada. Ao meu lado esta sentada minha esposa, parece estar lendo, ou escrevendo. Difícil dizer... Uma senhora negra e cabelos grisalhos entra, ela parece muito como antiga amiga da minha mãe, ela tem um tom amigável e maternal, ela fala com a minha mulher:
- Ele dormiu, parecia estar muito cansado. Como se não pregasse os olhos há muito tempo.
- Sim, de certa forma sinto que ele apenas nunca dormiu, parece afundado em seus sonhos, mas aposto que não conseguiu desligar.

Eu vejo tudo, como se estivesse congelado, deitado olhando pra frente, por um período tudo fica em silencio, mais tempo que parece fazer sentido, muito tempo. A presença delas some, eu sei que estou sozinho.

No canto esquerdo do quarto, eu vejo algo, não consigo identificar, parece uma sombra, não emite som algum. Mas com certeza mostra sua presença. A coisa começa a se deslocar como piche, uma bolha de negra que se move através das paredes, para sobre o pé da cama, e lentamente sobe. Estou preso, não consigo me mexer apenas ver o predador saboreando o medo da sua presa, uma sensação de total impotência, quanto mais tento me levantar, mais me sinto pesado. A presença se arrasta sobre meu peito, tomando uma forma humanoide negra de chapéu, ele não se move de forma não natural, como um ser sem ossos que desafia a física. Ele me encara, não diz nada, mas eu sei o que ele esta dizendo, sinto a maldade, sinto que a sobra sem olhos me encarra e me faz ver meus piores pesadelos. Tento de todas formas criar forças, não posso ser subjugado por essa coisa, tenho que ser mais forte. Mas como!?!?! Não sei... Só não posso deixar isso me afundar na sua miséria!

Por alguma razão começo a falar com presença, mas não com sons e sim pensamento, ela parece me entender e olha pra mim em desafio. Começo a dizer o quanto ela não é forte o suficiente e o quanto vou sair da minha cama-prisão, durante esse tempo ele me rodeia como uma nuvem de deboche. Sinto minhas forças voltar, junto com a minha raiva de ficar tanto tempo paralisado, se a soma dos meus medos é estar fora de controle, agora preciso reagir. Me levanto encaro o demônio negro, que me encara de de volta, mas sem a mesma força, com a minhas mãos o seguro e o bato contra a parede, parece um lençol sujo de tão fraco e a aparição explode como uma bola de piche.


Me acordo e minha esposa esta ao meu lado, em seu afazeres e o livro permanece no meu peito...


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