domingo, 30 de maio de 2021

Elvis Costello - Mighty like a Rose



Depois de ter sua marca registrada mais que marcada na década anterior, Elvis Costello entra nos anos 90 negando o estilo limpo ala buddy Holly adornado por terninhos. Deixa crescer seus cabelos e barba, óculos com molduras redondas, levemente mais pesado e com vestimentas mas soturnas, lembra um pouco o Stanley Kubrick.

Musicalmente Mighty Like a Rose tem um pé em n estilos, o que não surpreende quem é fã do cantor, mas é um disco difícil nas suas primeiras audições. Muito por flerta com tantos seguimentos musicais que beira a um álbum bipolar. 
 

Começamos com a chupação de Beach Boys na cara dura em "The Other Side of Summer", com uma pegada bem alegre embalando uma letra cínica que ataca várias artistas, John Lennon é mais obvia delas: "Was it a millionaire who said "imagine no possessions"?; Já em "Hurry Down Doomsday (The Bugs Are Taking Over)" ele brinca com sons caóticos emulando um ataque mutante, a bateria é bem primal e temos uma guitarra suja bem esparsa segurando o arranjo; "How to Be Dumb" é mais próxima do seu estilo antigo, mas tem alguns sons ala country como órgão, etc... Um dos melhores vocais do disco; A intro de "All Grown Up" tem um quê de nostalgia e breguice, lembra um pouco daqueles temas de seriados dos anos 70 misturado com algumas canções de cantores crooners da época, o arranjo de cardas, piano e sopro é sublime ainda mais quando tu culmina na volta da introdução; "Invasion Hit Parade" inicia com um toque espanhol, como uma tourada e batida bem pausada, não impressiona na primeira audição, mas o refrão cresce com o ouvinte. Vale também mencionar o solo dissonante de trompete; Emulando os Beatles em Sg. Peppers, temos "Harpies Bizarre" que puxa até o clavicórdio com muitas sessões de sopro numa bandeja medieval, mas tem um clima mais sinistro que o Fab Four não saberia fazer; Quebrando a complexidade das faixas anteriores, "After the Fall" tem poucos instrumentos e se segura nos vocais sutis de Costello. Boa canção, mas nada demais; "Georgie and Her Rival" poderia facilmente fazer parte do disco Trust (com os Attractions), de longe umas das minhas preferidas do disco por causa dos vocais e orgão certeiro nos versos; Se tem uma música que me puxou pro material "SOLO" de Costello foi "So Like Candy", o tom soturno da música é o epicentro de sentimentos deprê que transbordam no ouvido do ouvinte, caso tenha visto o clipe primeiro ainda temos uma imagem de um Elvis Costello "desarruamado" preso numa sala suja cantando e tocando o seu violão para o vazio (me identifiquei), o melotron (tipo de órgão) e guitarra com eco emolduram toda a canção; Voltamos ao rock básico com "Playboy to A Man", a canção mais pesada dos disco, vocais bem agressivos com backings de resposta; A intro de "Sweet Pear" é tão "Don't Let Me Down" (Beatles) que acredito ter sido feita de sacanagem quase, mas ás comparações acabam aí, já que do nada se transforma numa música totalmente motown. Os vocais estão perfeitos, com destaque para o som de cordas; "Broken" é os vocais sob uma camada de som, tem um tom bem triste, mas é elo fraco da playlist; Finalizamos com "Couldn't Call It Unexpected No. 4", onde Costello martela o piano sob uma marcha circense, terminado num fade out lamuriento.

Bem, esse é um disco que requer mais de audição para ser compreendido, eu sempre admirei o quanto Costello não tem medo de abandonar sua marca pra desbravar novos territórios e esse registro marca um momento na estória do cantor, onde ele mesmo não queria se valer mais de seu passado para ser relevante, comercialmente falhou, mas musicalmente...

OBS: Sim, a capa é horrorosa! 

segunda-feira, 10 de maio de 2021

O homem do chapéu


 Não me considero uma pessoas das mais sãs, mas o que me aconteceu esta pondo a prova meus piores temores. Tenho infelizmente desenvolvido uma nova mania pelo oculto, não que tenha interesse em fazer maldições, mas a estória em volta desse tema tem me instigado nos últimos meses. Por minhas andanças por sebos empoeirados pelas cidade, tropecei com esse livro, a capa realmente me instigou. Uma figura de um bode-humano sobre um pentagrama, com seu titulo “O livro máximo sobre bruxaria e outras historias”.


Não nego que tive um sensação desagradável ao folhear suas páginas amareladas, um toque maléfico permeia ás páginas, eu posso sentir! A repulsa era tão grande que não consegui comprar esse livro, mesmo com seu preço quase dado, um convite delicioso a minha natureza humana. Isso aconteceu há mais ou menos dois anos atrás, mesmo com a minha mania sobre um tema tão mórbido ter se dissipado, ou pelos menos eu achava que sim. Me achei nas mesmas ruas sujas e desertas da maldita livraria, não pude me controlar de entrar e na quase certeza achar o mesmo livro me aguardando. Nem pensei em valores, se isso não é um sinal que devo me aventurar por esse mundo, o que mais pode ser? Engraçado pensar que o lapso de tempo da minha narrativa não corresponde aos meus pensamentos?!?!

De qualquer forma, ao chegar em casa joguei o livro junto aos vários que compro, mas não tenho mais a mesma ânsia de ler. Comentei vagamente com a minha esposa meu novo item, como de certa forma acredito que ele macabramente me esperou nas prateleiras de uma livraria por dois anos. E quanto isso me fascinava e o quanto me cansava as suas preocupações femininas sobre meu interesse sobre tal assunto. Deixei a reclamando para si, nada mais importa. Não quero entrar no mundo sombrio, apenas saber como é, me tirar um pouco da existência mundana que se transformou minha vida.

Me deito na minha cama de madeira, pego o livreto e me perco em suas estórias que adornam demônios, gnomos, rituais e criaturas do macrocosmo do oculto. O que me surpreende é o quanto a sua leitura me intimida, mas ao mesmo tempo me decepciona, ao ponto de começar a cair no sono. Ponho um pouco de lado para descansar meus olhos, estão tão cansados que nem me dou o trabalho de fechar o livro, apenas o repouso aberto no meu peito...

A minha visão parece levemente desfocada. Ao meu lado esta sentada minha esposa, parece estar lendo, ou escrevendo. Difícil dizer... Uma senhora negra e cabelos grisalhos entra, ela parece muito como antiga amiga da minha mãe, ela tem um tom amigável e maternal, ela fala com a minha mulher:
- Ele dormiu, parecia estar muito cansado. Como se não pregasse os olhos há muito tempo.
- Sim, de certa forma sinto que ele apenas nunca dormiu, parece afundado em seus sonhos, mas aposto que não conseguiu desligar.

Eu vejo tudo, como se estivesse congelado, deitado olhando pra frente, por um período tudo fica em silencio, mais tempo que parece fazer sentido, muito tempo. A presença delas some, eu sei que estou sozinho.

No canto esquerdo do quarto, eu vejo algo, não consigo identificar, parece uma sombra, não emite som algum. Mas com certeza mostra sua presença. A coisa começa a se deslocar como piche, uma bolha de negra que se move através das paredes, para sobre o pé da cama, e lentamente sobe. Estou preso, não consigo me mexer apenas ver o predador saboreando o medo da sua presa, uma sensação de total impotência, quanto mais tento me levantar, mais me sinto pesado. A presença se arrasta sobre meu peito, tomando uma forma humanoide negra de chapéu, ele não se move de forma não natural, como um ser sem ossos que desafia a física. Ele me encara, não diz nada, mas eu sei o que ele esta dizendo, sinto a maldade, sinto que a sobra sem olhos me encarra e me faz ver meus piores pesadelos. Tento de todas formas criar forças, não posso ser subjugado por essa coisa, tenho que ser mais forte. Mas como!?!?! Não sei... Só não posso deixar isso me afundar na sua miséria!

Por alguma razão começo a falar com presença, mas não com sons e sim pensamento, ela parece me entender e olha pra mim em desafio. Começo a dizer o quanto ela não é forte o suficiente e o quanto vou sair da minha cama-prisão, durante esse tempo ele me rodeia como uma nuvem de deboche. Sinto minhas forças voltar, junto com a minha raiva de ficar tanto tempo paralisado, se a soma dos meus medos é estar fora de controle, agora preciso reagir. Me levanto encaro o demônio negro, que me encara de de volta, mas sem a mesma força, com a minhas mãos o seguro e o bato contra a parede, parece um lençol sujo de tão fraco e a aparição explode como uma bola de piche.


Me acordo e minha esposa esta ao meu lado, em seu afazeres e o livro permanece no meu peito...


quarta-feira, 5 de maio de 2021

O pior jogador da franquia Souls e por quê isso pouco importa.


 Essa saga sempre foi algo que evitei, mas nos últimos três anos me deixou fascinado (ou com um a "mania" como diria a Toupeira no conto do Sr. Sapo), muito por culpa do Bloodborne por juntar elementos de Londres do século 18 e Hp lovecraft. Pra mim a junção desses elementos foi impossível não aproveitar um saldão da PSN e pegar o jogo.

Sabia de "dificuldade elevada", que na real é meio nada ver já que o jogo é bem justo e um dos poucos que quando sofro uma derrota, não culpo ele. Em geral é uma mancada minha. Mas não jogo ele para vencer os desafios (até por que na real, sou o pior jogador possível, estressado e sem paciência) e sim pela ambientação, pela estória que emula o quanto o mundo em que vivemos é indiferente a nossa presença e quando morrermos estamos fadados ao esquecimento, que as nossas realizações significam muito mais para nós que para terceiros e que deveríamos acima de tudo valorizar as pequenas vitória. Também o quanto a ganancia de um individuo pode condenar a todos, o quanto todos nós temos sede de poder e bancamos os bons samaritanos enquanto estamos na casta baixa, mas assim que ascendemos, (em geral) temos a tendência de sucumbir as tentações de de se achar um ser superior. Nossa quanta filosofia "vazia" tirada de um jogo...

Gosto do conceito dos "vazios" do Dark Souls 1, por um lado fala muito sobre a (minha?!) depressão o quanto podemos sempre tentar depois de cada queda e que não é o fim do mundo uma derrota. Mas alguns de "nós" não tem mais vontade de levantar, por que talvez pense que tem poucas chances de vencer e se deixa "esvaziar" da força de vontade, uma boa metáfora, tenho que convir. Acho que a minha experiência é muito mais o quanto o gameplay emula o quanto sou apreensivo a derrotas, enquanto vejo outros jogadores se atirarem de cara em aventuras aceitando suas consequências. Vou aos poucos e demoro muito mais tempo enfrentando cada inimigo e descobrindo cada caminho, depois de alguns dias já habituado a fase. Enfrento o chefe, caso o desafio seja muito alto (para mim), posso perder a "vontade" de jogar por uns dias. Não tenho ânsia (de alguns) de vencer, isso diz muito sobre mim e não é exatamente algo que goste. Bizarro notar que quando vejo um obstáculo, tomo tempo demais estudando e me preparando (muitas vezes em exagero). Quando finalmente retomo minha coragem, vejo que não era um monstro tão impossível assim e conquisto a vitória (geralmente de forma bem desleixada e pouco sigo meu plano). Mas ao mesmo tempo de felicidade da conquista, vem a apreensão de um novo desafio, e como se pode notar, não sou uma pessoa que procura desafios.

Mas ao mesmo tempo esses jogos que deveriam me repelir, me atraem, me pego vendo vídeos sobre Lore, guias e reviews. E aos poucos tento seguir em frente, ainda não virei nenhum deles, mas cada vitória me faz ver o quanto esses jogos falam da minha vida pessoal e quanto espelham minha relação com o meu mundo. O quanto ás vezes nós vemos em situações que apenas a escuridão esta a vista, o quanto podemos nos pressionar a sermos iguais ao aventureiros que aceitam suas derrotas e não sucumbem a ficar "vazios" (nem por alguns dias). Mas, se talvez levar um tempo para o autoconhecimento seja a sua forma de vencer os monstros, talvez você não precise ser igual a eles, talvez aqueles dias em que estivemos "vazio" serviu como um exemplo de algo que não queremos ser, mas talvez tenhamos pouco controle de revidar imediatamente, que uma batalha contra nós mesmo se apresenta na nossa cabeça quando encontramos os monstros, ou seja são dois inimigos para vencer e um deles nos conhece bem demais.