quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Suícidio social

Eu caio da cama, me arrasto através do tapete, bagunçando a sujeira ao meu redor, Olho para o banheiro, relembro meu amigo morto...
Com grande esforço me levanto, vacilante chego a mesa e desabo sobre uma cadeira, minha cabeça esta a mil, visão turva e me sinto como se tivesse não tomado banho há dois anos. Tento visualizar o ambiente: Um lugar sujo, quarto/cozinha e uma banheiro imundo com uma banco e uma forca preparada. Ok, meio incomum mas pode acontecer! Há o velho cinismo...
Acho que adormeci por alguns instantes, tem um ser bem estranho na minha frente, me olha como se eu estivesse na inquisição espanhola, extremamente bem barbeado, cabelo lambido para trás, não exatamente bonito nem feio, veste um terno branco solene, como se estivesse vindo de um funeral. A voz dele é paternal e de alguma forma irônica:

Escute bem,você não pode ficar assim por muito tempo filho, vivendo nesse pardieiro, trasando com essas Jesebeis e se envenenando pela cidade. Isso uma dia vai ter fim.

Eu apenas me limito a resmungar algo sem sentido, parece que algo sugou minhas forças. Mas a figura é mais insistente que operador de tele-marketing e continua:

Eu vejo nos seus olhos sem esperanças e nas suas respostas zombeteiras. Você sempre foi assim filho, sempre arranjando motivos para esconder seus sentimentos e mascará-los com esse sarcasmo de plástico.

Me resumo a sorrir meus dentes amarelados e tentar me manter acordado. Ele parece estar perdendo a paciência comigo. Com tom infantil ele segui:

Sabe, teve épocas que nós poderíamos aceitar essas atitudes, mas o fato de você estar sabotando a sua vida esta passando dos limites, esta destruindo tudo de bom que construímos. E tudo por que? Por que você não estava feliz, apenas isso...
Não adianta sorrir essas perolas para mim rapaz, eu sou seu amigo mais intimo e quando tenho que sair para lhe chamar a razão, algo esta extremamente errado!


Bato a cara na mesa, com uma mão mexo no meu cabelo ensebado e me puxo volta a conversa, cuspo sangue no seu terno impecavelmente limpo e aponto para o banheiro e digo:

Desculpa por não estar a altura de suas expectativas, e agradeço por me lembrar de minhas falhas. Mas se da minha parte só lhe trago desilusão e desgosto. Esteja a vontade ser o primeiro!

Seu rosto cai em suas mãos, derrotado por alguns instantes, tudo parece congelar...
Mas num estouro sinto meu lábios se partirem e flutuo no ar em direção ao chão.

Do resto apenas lapsos (fragmentos), ele chuta minha cadeira, se direciona ao banheiro minusculo e fedido, testa a corda com um puxão forte e com o rosto em pesar eu vejo meus últimos segundos escorrendo através do espelho.

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