sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Ondas de radio no ventilador

Eu ouvia sons distorcidos na turbina, como um rádio mal sintonizado, sabia que eram palavras, mas era incompreensível por causa da distorção e o barulho forte das hélices.
Eu desligo o ventilador para ouvir se ás vozes vem de outro cômodo, mas nada há não ser o silencio. Ligo novamente, por alguns segundos é apenas o trovejar da turbina e eu, mas logo começa novamente, como uma conversa particular, o locutor derrama suas palavras sem sentido no meu quarto, fecho os olhos, apuro meus ouvidos tentando distinguir alguma coisa, o único sentimento que sinto é que isso é uma mensagem para mim.

São três da manhã, me acordei estranho, alguns pesadelos, eu me lembrava bem deles até alguns segundos atrás, começo a ouvir algumas coisas, palavras (Cactos, perola, sal, sorriso, gosto e agosto) e frases sem sentido (O filho da mãe é mais próximo que a filha mãe, sete caminhos para sete finais e mentiras infinitas são combustível no reino de Oz). Gosto amargo na boca, uma sensação de azia misturada com bílis, melhor voltar a dormir.

Comprei um caderno para escrever o que o ventilador me fala, com certeza é algo importante, alguma coisa tenta se comunicar. Tem vezes que tudo tem sentido, outras coisa se perdem no vácuo e tem o silencio do motor que me consome. Tenho algumas páginas escritas, em sua maioria rascunhos, osso sem corpo, mas esta começando a ter algum sentido.

Disse a senhora para o bom moço: 1, 2, 3 e 4 quem dá o primeiro salto. 5 e 6 eu não cedo minha vez. 7 e 8 quem não morre de desgosto. 9 e 10 todo dia têm seu gosto.


Às autoridades informaram que encontraram o corpo no final da rua, o que aparenta ser um suicídio, havia cortes em toda pele, provavelmente feitos com estilete, algum até nas solas dos pés. Mesmo com o estado do corpo após a queda estar quase irreconhecível. Um perito reconheceu algumas palavras ou frases que não foram divulgadas oficialmente. A senhoria do prédio disse que o rapaz estava psicótico, passava a maior parte do tempo no seu quarto escrevendo em cadernos, ao que parece havia mais de cem cadernos, inúmero rabisco em folhas de ofício e além das paredes estarem escritas também. No seu quarto só havia um colchão e um ventilador.

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