Não me considero uma pessoas das mais sãs, mas o que me aconteceu esta pondo a prova meus piores temores. Tenho infelizmente desenvolvido uma nova mania pelo oculto, não que tenha interesse em fazer maldições, mas a estória em volta desse tema tem me instigado nos últimos meses. Por minhas andanças por sebos empoeirados pelas cidade, tropecei com esse livro, a capa realmente me instigou. Uma figura de um bode-humano sobre um pentagrama, com seu titulo “O livro máximo sobre bruxaria e outras historias”.
Não nego
que tive um sensação desagradável ao folhear suas páginas
amareladas, um toque maléfico permeia ás páginas, eu posso
sentir! A repulsa era tão grande que não consegui comprar esse
livro, mesmo com seu preço quase dado, um convite delicioso a minha
natureza humana. Isso aconteceu há mais ou menos dois anos atrás,
mesmo com a minha mania sobre um tema tão mórbido ter se dissipado,
ou pelos menos eu achava que sim. Me achei nas mesmas ruas sujas e desertas
da maldita livraria, não pude me controlar de entrar e na quase
certeza achar o mesmo livro me aguardando. Nem pensei em valores, se
isso não é um sinal que devo me aventurar por esse mundo, o que
mais pode ser? Engraçado pensar que o lapso de tempo da minha
narrativa não corresponde aos meus pensamentos?!?!
De qualquer
forma, ao chegar em casa joguei o livro junto aos vários que compro,
mas não tenho mais a mesma ânsia de ler. Comentei
vagamente com a minha esposa meu novo item, como de certa forma
acredito que ele macabramente me esperou nas prateleiras de uma
livraria por dois anos. E quanto isso me fascinava e o quanto me
cansava as suas preocupações femininas sobre meu interesse sobre
tal assunto. Deixei a reclamando para si, nada mais importa. Não
quero entrar no mundo sombrio, apenas saber como é, me tirar um pouco da
existência mundana que se transformou minha vida.
Me deito na
minha cama de madeira, pego o livreto e me perco em suas estórias que
adornam demônios, gnomos, rituais e criaturas do macrocosmo do
oculto. O que me surpreende é o quanto a sua leitura me intimida,
mas ao mesmo tempo me decepciona, ao ponto de começar a cair no
sono. Ponho um pouco de lado para descansar meus olhos, estão tão
cansados que nem me dou o trabalho de fechar o livro, apenas o repouso
aberto no meu peito...
A minha visão parece levemente
desfocada. Ao meu lado esta sentada minha esposa, parece estar lendo,
ou escrevendo. Difícil dizer... Uma senhora negra e cabelos grisalhos
entra, ela parece muito como antiga amiga da minha mãe, ela tem um
tom amigável e maternal, ela fala com a minha mulher:
- Ele dormiu, parecia
estar muito cansado. Como se não pregasse os olhos há muito
tempo.
- Sim, de certa forma sinto que ele apenas nunca dormiu,
parece afundado em seus sonhos, mas aposto que não conseguiu
desligar.
Eu vejo tudo, como se estivesse congelado, deitado
olhando pra frente, por um período tudo fica em silencio, mais tempo
que parece fazer sentido, muito tempo. A presença delas some, eu sei
que estou sozinho.
No canto esquerdo do quarto, eu vejo algo,
não consigo identificar, parece uma sombra, não emite som algum.
Mas com certeza mostra sua presença. A coisa começa a se deslocar
como piche, uma bolha de negra que se move através das paredes, para
sobre o pé da cama, e lentamente sobe. Estou preso, não consigo me
mexer apenas ver o predador saboreando o medo da sua presa, uma
sensação de total impotência, quanto mais tento me levantar, mais
me sinto pesado. A presença se arrasta sobre meu peito, tomando uma forma humanoide negra de chapéu, ele não se move de
forma não natural, como um ser sem ossos que desafia a física. Ele me
encara, não diz nada, mas eu sei o que ele esta dizendo, sinto a
maldade, sinto que a sobra sem olhos me encarra e me faz ver meus
piores pesadelos. Tento de todas formas criar forças, não posso ser
subjugado por essa coisa, tenho que ser mais forte. Mas como!?!?!
Não sei... Só não posso deixar isso me afundar na sua miséria!
Por alguma
razão começo a falar com presença, mas não com sons e sim
pensamento, ela parece me entender e olha pra mim em desafio. Começo
a dizer o quanto ela não é forte o suficiente e o quanto vou sair
da minha cama-prisão, durante esse tempo ele me rodeia como uma nuvem
de deboche. Sinto minhas forças voltar, junto com a minha raiva de
ficar tanto tempo paralisado, se a soma dos meus medos é estar fora
de controle, agora preciso reagir. Me levanto encaro o demônio negro,
que me encara de de volta, mas sem a mesma força, com a minhas mãos
o seguro e o bato contra a parede, parece um lençol sujo de tão fraco e a aparição explode como uma bola
de piche.
Me acordo e minha esposa esta ao meu lado, em seu
afazeres e o livro permanece no meu peito...
Nenhum comentário:
Postar um comentário