Pescando "raridades" online, me deparo com essa capa: Um cowboy encarando vazio e o titulo Jeff Turner: Cowboys, Truckers & Lovers? Caramba, mais datado impossível, tenho que ouvir essa desgraça! Por incrível que pareça tem o disco inteiro no Youtube (Um canal de vinis antigos disponibiliza). Já via Streaming a carreira do Jeff Turner só começa a partir de 1990...
Um detalhe é que esse cara não tem quase nenhuma informação na web, nem no Wikipédia tem nada concreto, com exceção da versão alemã, onde tem alguma coisa tirada do site dele: Ele era um quiroprático que foi para os EUA trabalhar, enquanto esperava sua licença resolveu faturar uma grana tocando Country. E para minha surpresa, ele não é americano, sim australiano/suíço! Por algum motivo, assim ele permaneceu e conseguiu manter a sua carreira. Creio eu, já que, como disse o cara é um mistério, mesmo que tenho alguns vídeos dele ao vivo na rede e até a sua morte em 2020, ele ainda se apresentava...
Milagrosamente é possível achar esse álbum em cd, com sorte (que eu não tive) num preço bem bacana!
Mas como a carreira do artista, nada de informações no encarte: Qual era a banda? O nome da cantora que divide os vocais em algumas canções? Nada, apenas créditos de composição, sendo seis do Jeff Turner (algumas em parceria com um tal de Corner), outras covers e outras tradicionais. A única certeza é que o Jeff Turner Canta e toca violão.
Bem, a parte disso é um bom disco de Coutry regado a muito rock, com bons riffs de guitarras em algumas canções, baladas folk e vocais poderosos que guiam os temas das trivialidades da vida de um "Cowboy do asfalto". Ás letras são muito boas, tem momentos bem engraçados e bregas. Também alguns temas pesados.
- You can have her: Essa é mais próxima de um country raiz, se você ouvir apenas essa canção, pensa que vai ser mais um disco básico do estilo. Não é ruim, ao contrario já mostra que o cantor tem voz poderosa e bom ritmo para contar uma historieta. Mas musicalmente é competente apenas;
- Devil's ravine: Essa já começa com um riff bem pesadinho até, alias a guitarra solo brilha nessa faixa. A letra conta a estória sobre uma estrada conhecida como "ravina do Diabo", tem tanto detalhe que você se sente dirigindo por ela, ainda tem efeitos especiais para ajudar no clima;
- You're gonna love yourself: Típica balada de fim de noite naquelas bares de beira de estrada com direito a lapsteel chorando de fundo e dueto de casal! O narrador jura que nunca vai abandonar a sua amada depois daquela noite, que compreende que ela já foi usada e suas suspeitas, mas ele é diferente. É tão brega que é difícil não curtir;
- Sixteen Tons: Outra música onde a guitarra solo se destaca com bons riffs e solo, além de backing vocais "indígenas" e vocal falando sobre a divida de um minerador com a empresa a qual trabalha;
- Wind blows it's own way: Outra balada em dueto, aqui tratando como ás mulheres não entendem os sentimentos dos cowboys e seu espirito livre como o "vento";
- Me or your guitar: Para é mim é mais engraçada do disco, aqui tratasse de um fã de country que compra uma guitarra, por causa de sua paixão por ela, ele tem que escolher entre a guitarra e sua mulher! É o básico de country, onde o violão e a guitarra conversam sobre uma batida bem alegre;
- Tennesse Roads: De longe a canção mais rockeira do disco, principalmente a guitarra solo com licks bem Rock n' Roll dos anos 50 com pitadas de blues aqui e acolá. Liricamente é a mais fraca do conjunto;
- If you wanna know: É uma canção de fim de relacionamento, não chega a ser uma balada e sim mais folk. A letra com certeza tem ás melhores perolas de Jeff Turner, alguns exemplos: "se você quiser saber... o quanto sinto sua falta? ponha sua cabeça na água, tire-a e veja o lugar onde deveria estar", "se você quiser saber... para onde eu vou? aponte para o mapa, eu estarei o mais longe dali" e "se você quiser saber... por que eu estou a deixando? aponte para a estrelas, conte quantas poder, esses são os motivos que você me deu". Jeff Turner é um poeta;
- Auctioneer: É o ponto fraco do disco, longe de ser ruim, mas nada demais; Tem uma boa brincadeira com a velocidade e bons arranjos de banjo;
- Highway Queen: Essa puxa um baixo bem na linha de "Highway Star" (não tão trabalhado, mas tem a intensidade) do Deep Purple, a guitarra e violão dançam nessa moldura com boas quebradas da bateria e um bom refrão. A letra trata de uma adolescente que se torna uma assassina em série que pedi carona e mata caminhoneiros, um tipo de vingança contra os "vaqueiros" do asfalto (essa ficou bonita) para tentar amenizar a sua dor de ter sido abandonada por um deles;
- Train Medley: É uma mistura de uma canção do johnny Cash ("Folson Prison") mais duas canções tradicionais. Tem clima de urgência, (se não estiver enganado) uma guitarra wha de fundo e boas linhas de solo;
- Special lady: Fechando de modo soturno, vocais serenos e o lapsteel lacrimejando em momentos certeiros. Aqui o narrador declama o seu amor, melhor implora e diz o quanto deseja ajeitar com a sua amada. Mesmo aos quarenta e um anos, ele sente que a sua vida esta apenas começando;
um dos melhores álbuns de Country Rock que ouvi, infelizmente fadado esquecimento já que pouco sabemos de autor e obra. Mas mesmo assim para quem cruzar com essa "resenha", espero que desperte o interesse.
https://youtube.com/playlist?list=PL5IVSzj8l_FQalGmRsT0xNasLvbvFiKS9